Os geógrafos (mas não só eles) sabem bem que o rural e o urbano
são mundos conectados. O modelo de produção e consumo que expulsa os
agricultores familiares de suas terras é o mesmo que explica o crescimento
desordenado das metrópoles. O ideário do
desenvolvimento que impulsiona a abertura de novas fronteiras agrícolas também
acelera a construção civil. Não por acaso, portanto, o trabalho escravo
contemporâneo é uma realidade no campo e nas cidades. Dados do Ministério do
Trabalho e Emprego (MTE) reunidos pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) apontam
que houve a libertação de 45 pessoas escravizadas no ramo das confecções em
2010 e outras 80 até outubro de 2011. A maior parte desses flagrantes aconteceu
em São Paulo, onde funcionam aproximadamente seis mil oficinas de costura, muitas
delas clandestinas. Os trabalhadores são principalmente bolivianos, paraguaios
e peruanos que estão na condição de imigrantes ilegais, o que torna o combate
ao trabalho escravo neste setor ainda mais difícil, porque as vítimas têm medo
de fazer a denúncia e serem expulsas do Brasil. A Pastoral do Migrante estima
que cerca de 300 mil estrangeiros latinoamericanos morem na região
metropolitana de São Paulo. Muitos deixam seus países por causa da pobreza, em
busca de melhores condições de vida, e acabam mais vulneráveis à exploração
degradante de sua força de trabalho. Ainda segundo dados do MTE compilados pela
CPT, foram resgatados 176 trabalhadores na construção civil em 2010 e mais 275
até outubro de 2011. Em Campinas, no interior de São Paulo, três empreiteiros
foram presos pela Polícia Federal em fevereiro de 2011 por manterem 26
operários em condições análogas à escravidão. O fato motivou a Câmara de
Vereadores de lá a abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI)para
investigar o trabalho escravo em obras na cidade. A escravidão contemporânea no
mercado do sexo também é uma realidade das cidades difícil de ser fiscalizada e
combatida. De acordo com o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes
(UNODC), ela está ligada ao tráfico interno e externo de pessoas, o terceiro
mais lucrativo do mundo: só perde para o tráfico de drogas e de armas. Um
relatório publicado em 2009 pelo UNODC calcula que, de cada três pessoas
traficadas, duas são mulheres. E de cada 10 mulheres traficadas, oito são
exploradas sexualmente.
segunda-feira, 30 de julho de 2012
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